sábado, 11 de outubro de 2008

PÁTRIA MADRASTA VIL

Abaixo repodruzo o texto de Clarice Zeitel Vianna Silva, estudante de direito da UFRJ, que venceu um concurso da Unesco cujo tema era: 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'. É longo, mas vale a pena!

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país!
Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade.
Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos...
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

4 comentários:

Anônimo disse...

Belo trabalho. Relata exatamente a dura realidade em que sempre vivemos.

Anônimo disse...

Escreve bem a guria, pena que tao engajada, ela é daquelas que perguntam: O que meu pais pode fazer por mim, quando deveria perguntar: O que posso fazer pelo meu pais? Ela daquelas que acham que o mundo é feito de direitos sem a contrapartida das obrigações, pensa que ser cidadão é receber sem contribuir, pensa que o progresso se consegue com benesses, que os competentes e esforçados têm que sustentar os incopetentes e preguiçosos. Enfim é um legitimo especime da esquerda.

Anônimo disse...

Zé, para fazer um contraponto a este texto ligeiramente babaca, publique um texto de arnaldo jabor que sei que vc ja recebeu do welington. sobre as caracteristicas do "Brasileiro"
João do caminhao

Eldan de Lima Nato disse...

Excelente reflexão! Eu diria até "Excelente discurso"!
É o discurso de uma estudante que acha que o Brasil precisa ser feito de direitos e DEVERES, pois o dever que paga nossa educação nós o temos feito pela via dos impostos. E a obrigação que temos como cidadão é não nos corrompermos pois a corrupção alheia nós não podemos impedir.
Acredito que ela sabe muito bem o que é ser cidadão, pois reinvindica claramente seus interesses e direitos e é esclarecida. O nome dela é Clarice Zeitel Vianna Silva, ela não se esconde no anonimato para criticar os outros. Ela deve acreditar, não que o progresso se consiga com benesses, mas com competência da esfera pública - o que, historicamente, não há na corruptível administração pública nacional - que os competentes e esforçados também precisam se esforçar para que o país não seja uma vergonha no quesito pobreza, sendo tão rico.Enfim é uma legitima cidadã, não importa seu posicionamento político, o que importa é a clareza da sua indignação pela verdade que ela abrange.